sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Em busca de uma Escola Plural












Uma sociedade para Todos visa:

* Celebração das Diferenças,
* Direito de pertencer,
* Valorização da diversidade humana,
* Qualidade de vida para todos,
* Direito à felicidade,
* Soma das minoras criando uma maioria absoluta.

BENEFÍCIOS DA INCLUSÃO:
São inúmeros , pois quando se participa junto com outras pessoas acontece um aumento da auto-estima, melhoria da competência física e social e também um aumento na variedade de modelos sociais propiciados pela diversidade dos participantes.

BENEFÍCIOS PARA ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA:
* Modelos adequados nos colegas.
* Assistência por parte dos colegas de turma.
* A criança cresce e aprende a viver em ambientes de inclusão.
* Adquire cada vez mais independência e autonomia.
* Aprende a gostar da diversidade.
* Aprende a trabalhar em grupo.

BENEFÍCIOS PARA ESTUDANTES SEM DEFICIÊNCIA:
* A melhor forma de aprenderem com as diferenças individuais.
* Oportunidade para partilhar a aprendizagem.
* Diminuição da ansiedade face aos fracassos ou insucessos.
* Aprender a respeitar e valorizar o diferente.
* Tem acesso a uma gama bem mais ampla de papéis sociais.
* Perdem o medo e o preconceito em relação ao diferente.
* Desenvolvem valores como a cooperação e a tolerância.
* Adquirem senso de responsabilidade e melhoram o rendimento escolar.
* São melhores preparados para a vida, entendendo que as diferenças são enriquecedoras para o ser humano.

A Inclusão, como processo social amplo, vem acontecendo em todo o mundo, fato que vem se efetivando a partir da década de 50.
Segundo Sassaki ( 1997), a inclusão é a modificação da sociedade como pré-requisito para que a pessoa com deficiência possa buscar seu desenvolvimento e exercer a cidadania.
A escola como espaço inclusivo têm sido alvo de inúmeras reflexões e debates. A idéia da escola como espaço inclusivo nos remete às dimensões físicas e atitudinais que permeiam a área escolar, onde diversos elementos como a arquitetura, engenharia, transporte, acesso, experiências, conhecimentos, sentimentos, comportamentos, valores etc. coexistem, formando este locus extremamente complexo.
A grande polêmica está centrada na questão de como promover a inclusão na escola de forma responsável e competente

PAPEL DO EDUCADOR NA INCLUSÃO:
O Educador deve estar atento a alguns procedimentos:

  • Conhecer o grupo de pessoas, notar as necessidades e a partir daí, planejar;
  • Elevar gradativamente o grau de dificuldade das atividades;
  • Sempre demonstrar o exercício ou atividade, para que a criança possa ter uma visão global da tarefa a cumprir;
  • Evitar explicações complicadas e extensas ao iniciar;
  • Elogiar o acerto, mas nunca enfatizar o erro;
  • Sempre ao final da atividade, avaliá-la e se preciso transformá-la;
  • Conversar com todos os interessados (pais e pessoas que trabalhem com você), a respeito de sua conduta pedagógica;
  • Nunca improvise, planeje sempre;
  • Mantenha-se sempre atualizado, e se possível aprofunde-se no assunto, recorrendo à bibliografia existente;
  • Registre sempre as aulas, com fotos, filmagens e anotações (pois é uma ótima forma de avaliar o processo).
  • Na verdade se refletirmos sobre os procedimentos acima veremos que são indicados a todos os Educadores, sejam de inclusão ou não, pois nós Educadores somos co-responsáveis pela construção desse ser humano que chamamos de aluno.

COMO TRATAR UMA PESSOA COM DEFICIÊNCIA?

  • Devemos tratá-las como tratamos qualquer pessoa, entretanto, existem algumas atitudes que devemos evitar quando trabalhamos com pessoas com deficiências.
  • Trate a pessoa com deficiência da mesma forma como trataria qualquer pessoa, sem exageros e discriminações.
  • Nunca subestime o potencial de uma pessoa com deficiência, pois quando você pensa em suas limitações, ele pensa em como superá-las.
  • Converse com ela coisas interessantes e que não façam mal as partes.
  • Elogie sempre que houver um motivo real para isto. Evite elogios desnecessários.
  • Comunique-se sempre com ela, fazendo com que participe integralmente das atividades.
  • Seja natural com ela, sem demonstrar insegurança.
  • Cobre muito da pessoa com deficiência, pois geralmente ela é pouco exigida pelas pessoas. Sempre que é cobrada, ela se sente útil.
  • Use sempre estímulos motores da mesma forma como você usaria em uma pessoa qualquer, sem esquecer os fatores de segurança característicos e individuais de suas síndromes.
  • Devemos sempre comentar com ela os resultados que alcançou, para que possa corrigir eventuais falhas.
  • Uma pessoa com deficiência não pode se sentir inútil e descompromissada com as coisas que o cercam.

QUAIS OS BENEFÍCIOS?

A participação do aluno portador de necessidades especiais na aula de educação física é muito importante para que ele desenvolva suas capacidades perceptivas, afetivas, de integração, e de inclusão social, favorecendo a sua autonomia e independência.

A aula deve ser um exercício de convivência onde as pessoas aprenderão a construir uma nova sociedade, sem discriminação, e com atitudes de solidariedade, respeito e aceitação, onde não haverá lugar para o preconceito e a exclusão.

Em breve algumas dicas de como proceder em sala com os alunos com deficiências. Aceitamos sugestões, comentários, críticas e participações;

Abraços Cooperativos,

Sylvia e Reinaldo Soler

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Qual o tipo de Educador mais comum atualmente? Qual você gostaria de ser?





Vários países além dos EUA tem se utilizado das Estruturas de Aprendizagem Cooperativa criadas por Spencer Kagan. Os resultados tem sido muito positivos e causados grande transformações tanto no aprendizado quanto nas relações interpessoais entre alunos e entre os alunos e educadores.
Fáceis de implementares e divertidas de serem utilizadas , as estruturas de Aprendizagem Cooperativa são excelentes para serem utilizadas em qualquer disciplina, promovendo o aprendizado do conteúdo acadêmico com maior rapidez e maior eficiência d que os métodos tradicionais de ensino.
Segundo Kagan, existem três tipos de professores que expõe os alunos a três tipos básicos de aprendizado.
Imaginemos que numa escola haja três salas, com três turmas e três professores ensinando a mesma disciplina, por exemplo a Língua Inglesa.
Levemos em consideração que na maioria das salas de aulas em escolas regulares temos níveis diferentes de conhecimento prévio a respeito de qualquer disciplina. O conteúdo das aulas é o mesmo, entretanto a metodologia adotada em casa sala será diferente.
Na sala A, temos o Professor A:
Nessa sala ocorre uma aula tradicional. O professor faz perguntas a respeito do conteúdo e aguarda a resposta individual dos alunos, que ora são chamados a responder, ora levantam as mãos para responder.
O resultado desse tipo de aula é que normalmente são os mesmos alunos que levantam as mãos para responderem, que por sua vez são os que menos precisam uma vez que têm o conhecimento e controle do conteúdo abordado.
Por outro lado, alunos que têm maior dificuldade com o conteúdo se escondem atrás desses alunos, e rezam para nunca serem chamados. Esses alunos possuem baixa auto-estima, pois acreditam que não tem capacidade de responder corretamente, e quando são solicitados a responderem e o fazem errado são motivos de risos dos colegas.
Exemplo de aula do Professor A:
O Professor de Inglês pergunta:
" What colors can we see in a rainbow?" ( Quais as cores do arco-íris?)
Os alunos então levantam as mãos e vão nomeando as cores do arco-íris em Inglês. O professor muitas vezes reproduz na lousa as respostas, ou então mostra as cores em um desenho correspondente.
Só participou da atividade quem tem algum conhecimento do vocabulário ou certeza da resposta, ou seja, quem tem algum conhecimento da Língua, enquanto que os que não têm esse conhecimento prévio são excluídos da atividade e consequentemente perdem o interesse pela mesma, distraindo-se. Os alunos inseguros preferem não arriscar, evitando se expor em frente aos demais.
Resultado: Nem todos aprendem, muitos distraem-se ou perturbam a aula com conversas paralelas e brincadeiras. O Professor acredita que estes não tenham interesse ou não se esforçam para aprender e não percebe que contribui para isso.
Na sala B, temos o Professor B:
O Professor B prefere ter suas aulas com os alunos dispostos em grupos para que assim possam aprender melhor. Na aula o professor solicita que eles interajam diante de alguma atividade proposta, sem no entanto orientá-los.
Lança-se uma questão-problema e fornece-se um tempo para que os alunos possam interagir com os parceiros do grupo e encontrar a solução. Entretanto sabemos que o que ocorre na maioria dos trabalhos em grupo é que apenas um ou dois alunos se encarregam de resolver a questão e respondê-las em nome do grupo, enquanto os demais alunos distraem-se conversando, brincando ou divagando , sem participar do processo de aprendizado em grupo, resultado num aprendizado final igual ao do começo.
O professor irá apenas considerar o resultado final, ou seja o trabalho apresentado, não se preocupando com o processo em si, com o aprendizado que será extraído desse processo, avaliando a todos os participantes de igual maneira, independente da contribuição que cada um deu.


Exemplo de aula do Professor B:


O professor divide a sala em grupos com 4 participantes e determina:
" Converse com o grupo e façam uma lista com as cores do arco-íris."
Normalmente o aluno com maior conhecimento da Língua se encarregará da lista. Ele poderá ou não ter ajuda de outros alunos que tenham algum conhecimento, mas é possível que os outros participantes aproveitem a oportunidade para conversarem sobre outros tópicos que não estejam relacionados ao solicitado, se ocupando com coisas diferentes ao aprendizado do vocabulário.
Resultado: Nem todos participam do processo , continuando sem aprender, e o nível de barulho da sala aumenta, assim como a indisciplina, uma vez que os alunos sentem-se liberados para falar.
Na sala C, temos o Professor C:


Nessa sala o Professor divide os alunos em times com 4 participantes, e faz uso das Estruturas de Kagan a fim de promover o aprendizado.
Apesar de estarem sentados em grupos, os alunos são orientados em como proceder e a interação é exigida o tempo todo, de maneira estruturada, seguindo os conceitos básicos onde todos são responsáveis pela produção, e terão que participar de maneira igual.
O professor lança uma questão em conjunto com a estrutura pré-definida por ele para ser utilizada pelos times de maneira que os alunos alcancem o resultado cooperando entre sim.
Após lançar a questão, o professor dá um tempo para reflexão e interação entre os alunos através da Estrutura solicitada e o conteúdo ensinado. Mesmo com a participação de todos os alunos, sabemos que os alunos que sabem mais poderão contribuir e orientar aos que contribuir com menos. Entretanto, os alunos que tem maior dificuldade , ainda assim poderão contribuir com algo e perceberão que sua contribuição irá ajudar no resultado final, sentido-se parte integrante do time. A auto-estima destes alunos tende a aumentar e com isso seu interesse e comprometimento serão estimulados.
Exemplo de aula do Professor C:
Nesse caso o professor pede que no time os alunos trabalhem em pares. Os alunos olham para o parceiro sentado a sua frente e façam a Estrutura chamada RallyRobin, ou seja, um a cada vez deverá nomear uma das cores do arco-íris em Inglês.
Resultado:
Maior participação, isso porque a participação é parte do processo como um todo. Cada aluno terá sua vez para contribuir com a atividade. Os alunos terão que contribuir com a atividade. Caso seja um aluno com maior dificuldade, os parceiros na atividade terão um papel importante , onde irão encorajar, apoiar e se necessário orientar esse colega. Quando se termina a atividade os alunos devem celebrar.
Desta maneira é exigida uma maior atenção dos alunos. O aprendizado é divertido e interessante, tornando-se um processo saboroso ao invés de doloroso.
Através das Estruturas, o aprendizado ocorre por meio da cooperação, os valores humanos são contemplados durante todo o processo, pois é necessário respeito, atenção, saber ouvir e esperar a vez, compreender e aceitar a opinião do próximo, respeitar as dificuldades dos outros, exercitar a empatia. Além disso os alunos são estimulados a elogiarem os colegas por suas contribuições, a trabalharem com todos independente das diferenças, aprendendo assim a serem mais felizes e melhores como seres humanos.
Kagan afirma que é possível em algum momento sermos um dos três professores. Em momento algum dizemos que algum professor é melhor ou pior do que ou outro, sempre dependendo da situação. É claro que em algumas situações o trabalho individual se fará necessário, entretanto não devemos fazer com que seja permanente. Quanto mais agirmos como o professor que faz uso das Estruturas perceberemos que melhores serão os resultados obtidos.
Pesquisas realizadas sobre o uso da Aprendizagem Cooperativa em várias escolas pelos EUA comprovam que os alunos que são expostos a essa metodologia possuem um maior aprendizado com maior retenção e sedimentação dos conhecimentos, e consequentemente um maior aprendizado. Alunos expostos a Aprendizagem Cooperativa além de aprenderem o conteúdo, são também expostos aos valores sociais e humanos, aprendendo fundamentalmente a conviver uns com os outros na escola e na vida.
Deixe sugestões de atividades que poderiam ser realizadas para o Professor do tipo Cooperativo ( Tipo C).

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

APRENDIZAGEM COOPERATIVA




1. O QUE É COOPERAÇÃO?
No dicionário de Língua Portuguesa COOPERAÇÃO significa trabalhar e ajudar para alcançar um objetivo comum.
Para Piaget( 1973) cooperação é definida como co-operação, ou seja, cooperar na ação é cooperar em comum. Caracteriza-se pela coordenação de pontos de vista diferentes, pelas operações de correspondência, reciprocidade ou complementaridade e pela existência de regras autônomas de condutas fundamentadas de respeito mútuo.
Para que haja uma cooperação real são necessários as seguintes condições: existência de uma escala comum de valores; conservação da escala de valores e existência de uma reciprocidade na interação.
Finalizando, segundo Brotto (1999), a Cooperação é um processo de interação social, onde os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos.

E a APRENDIZAGEM COOPERATIVA? O que vem a ser isso?

No final do século XIX John Dewey (1859-1952) falava sobre a organização da escola que se preocupasse com “o desenvolvimento de um espírito de cooperação social e de vida comunitária” (Dewey, 2002, p. 25).
A escola ideal deveria ser um local onde as pessoas pudessem trocar idéias, sugestões, terem liberdade para se comunicares, e trocarem resultados de experiências anteriores bem ou mal sucedidas e a escola onde os estudantes tivessem que decorar lições era inadmissível para Dewey.
Nos anos 70 , Roger e David Johnson , considerados os precursores da Aprendizagem Cooperativa, publicam várias obra sobre cooperação e resolução de conflitos, desenvolvimento de competências sociais.
Spencer Kagan,psicólogo e estudioso da APRENDIZAGEM COOPERATIVA, afirma que esse é um método de ensino onde times pequenos e heterogêneos de alunos trabalham juntos para alcançarem um objetivo em comum. Em time os alunos trabalham para aprender e são responsáveis pelo próprio aprendizado, mas também de todo time. No entanto, há que se saber a diferença entre o trabalho em time onde os alunos não se comprometem com o resultado, e o time que é estruturado para ser um time cooperativo.
Faz algum tempo que os professores têm discutido, estudado e aprendido sobre maneiras positivas de se conseguir uma melhor interação entre os seus alunos e o conteúdo programático.
Nesses estudos ,os Educadores passam algum tempo também tentando criar ferramentas para que eles próprios consigam uma interação melhor com seus estudantes fazendo com que eles se interessem mais por suas aulas, entretanto a interação e integração entre os alunos têm sido erroneamente negligenciada.
Através da interação entre os alunos pode-se traçar um perfil do mecanismo de aprendizado dos alunos, percebendo como eles se sentem sobre a escola e sobre seus professores, como eles se sentem e se relacionam com seus colegas, e também sobre a auto-estima dos alunos.
Como dito anteriormente em outros post há três maneiras básicas que os alunos podem aprender conforme interagem uns com os outros, são elas:
COMPETIÇÃO, INDIVIDUALIZAÇÃO E COOPERAÇÃO.

Infelizmente nos dias atuais o que vemos ser mais estimulado nas escolas é a Competição. Para muitos alunos , a escola é vista como uma competição, onde os aluno são cobrados a disputar o primeiro lugar, emuitas vezes é estimulado pela escola e pelos professores a participar desta competição pela melhor nota, a não se preocupar com seus colega e nem com o processo do aprendizado. O que leva muitas vezes ao aluno a trapacear para conseguir seu objetivo, uma vez que o que ele entende disso tudo é que o que conta é o resultado.
Segundo Johnson & Johnson, essa competição começa assim que o aluno começa sua vida escolar e torna-se mais violenta conforme ele vai passando para as séries seguintes. Ainda é rara a cooperação entre os alunos , que passam a perceber e a se preocupar com o time ao invés de se preocupar apenas consigo próprio, que estimula e ajuda os colegas , que comemora quando algum colega consegue progredir e que aprendem a trabalhar uns com os outros valorizando os valores humanos, e despidos de preconceitos raciais ou sociais , não se importando com o sexo, opção religiosa, e capacidade intelectual de seus colegas.
Sabemos no entanto que esse modelo de interação não é benéfico a ninguém. Alunos não aprendem conceitos e habilidades, não sabem interagir com cada um desses modelos. Haverá casos em que as três situações de interação, competição, individualização e cooperação, poderão acontecer simultaneamente e os alunos deverão ser capazes de lidar com as três com eficiência. Somente assim serão capazes de escolher o tipo de interação mais apropriado a ser usado a cada situação apresentada.
Em uma situação de competição interpessoal não ocorrerá uma interdependência positiva, pois para um ganhar outros terão que perder. Como exemplo podemos citar a competição de soletrar que ocorreu no programa do Luciano Huck em conjunto com a rede pública de ensino, onde o campeão e a escola do mesmo ganhariam prêmios em dinheiro em detrimento dos demais alunos que talvez tenham estudado muito mais, aprendido muito mais em comparação consigo mesmo, mas não o suficiente para vencer , outros exemplos são atividades de corrida onde os alunos correm para pegar a resposta certa, talvez outros até saibam a resposta, mas não corram com tanta destreza, e portanto são considerados “perdedores”, não importando o conhecimento. Já no aprendizado individualista, os alunos trabalham sozinhos, sendo independentes uns dos outros, o sucesso de seu trabalho depende exclusivamente de seu esforço individual, assim como o fracasso. Os resultados dos colegas não interferem com o seu próprio resultado. Exemplo, ditado, onde cada aluno escreve as palavras ditadas pelo professor, e a pontuação feita depende exclusivamente do conhecimento individual de cada aluno, quem atingir determinada porcentagem de palavras corretas terá conseguido a nota satisfatória.
Por fim, na APRENDIZAGEM COOPERATIVA, a interação causa uma interdependência positiva com a “responsabilidade individual”. Para ocorrer a interdependência positiva é necessário que o time aceite e entenda que ou todos irão ganhar ou todos irão perder, não haverá um único vencedor, mas sim o time todo, e portanto todos deverão trabalhar e cooperar para que possam assim atingir o objetivo desejado. Podemos citar um jogo cooperativo de soletrar, onde os alunos trabalham juntos em pequenos times ajudando uns aos outros a aprenderem as palavras para que possam fazer o teste do ditado que ocorrerá num outro dia. Cada resultado de cada aluno em seu teste será aumentado por pontos bônus que estarão ligados ao resultado do time, se o trabalho do time foi satisfatório e se a somatória das notas do time atingir uma cota pré – determinada. Na aprendizagem cooperativa os alunos deverão se preocupar não somente com a sua capacidade de soletrar e conhecer as palavras , mas também com a capacidade dos colegas do time, ou até da sala toda. O critério utilizado sobre o aprendizado se será para o time ou para a sala toda, dependerá do que for previamente combinado entre a sala e o professor, bem como os pontos de bônus que receberão pela meta estabelecida alcançada.
O time cooperativo entende que a responsabilidade individual significa que todos os alunos sabem a sua parte e contribuem com o time para que possa atingir seu objetivo de maneira satisfatória. Apenas colocar os alunos em time não garantirá uma aula cooperativa, nem tão pouco a interação cooperativa, para que isso ocorra o professor deverá estruturar a aula e os times , utilizando atividades que visem a cooperação de todos, como veremos mais adiante.
A APRENDIZAGEM COOPERATIVA aumenta a motivação intrínseca dos alunos que passam a querer cooperar e participar das aulas, aumentando assim sua auto-estima. As relações étnicas melhoram e o “bullying” diminui, pois os alunos passam a se relacionar com todos e não somente com os mesmos colegas de sempre, passam a aprender valores sociais como respeito, cortesia, generosidade, saber ouvir, respeitar a opinião do próximo, entre outros.

domingo, 21 de setembro de 2008

PERGUNTAS E RESPOSTAS



1. É da natureza humana competir?
Esta opinião ainda é defendida e reforçada por muitas pessoas, apesar do fato de que há meio século, a antropóloga Margaret Mead provou que existem povos ancestrais que não pautam suas vidas pela competição. E quando encontro um único ser no planeta que não aja de forma competitiva, não posso afirmar que a competição seja inerente à espécie humana. Mead provou, por exemplo, que entre os índios Zuni e os Iroquois a competição era desconhecida. Ora, se entre a porção mais antiga da humanidade encontramos grupos que cooperam, então é fato dizer que o homem não nasce competindo e sim aprende, assim como poderá aprender a cooperar também.
Como já dissemos, e a antropóloga Mead provou, competição e cooperação são definidas pela estrutura social, não nascemos competindo ou cooperando, mas sim aprendemos a agir dessas duas formas. Podemos dizer que nascemos com as duas formas, e dependendo das interações que temos durante nossa vida, potencializamos uma forma ou outra. A porção que mais alimentarmos se sobressai.

Boff (1997) reforça a influência do meio, quando diz:

“A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha”.

É um erro afirmar que a nossa cultura é competitiva, ela está competitiva o que é muito diferente.
Não podemos mais justificar as nossas escolhas “jogando” a culpa numa cultura, mas sim buscar alternativas para modificá-la.
Dependendo das nossas ações, poderemos criar uma cultura mais justa, igualitária, enfim, muito mais cooperativa.

2. A competição traz à tona o melhor de nós?

Pelo contrário, é justamente a cooperação que nos realiza plenamente, isto provado por algumas pesquisas (Morton Deutsch). A competição, por sua vez, aumenta a ansiedade e impede que as informações sejam compartilhadas, e a alegria e o prazer em jogar, também desaparecem.
Na competição, utilizamos máscaras e nunca somos nós mesmos, pois mostrando nossas deficiências nunca somos aceitos, pois o que mais importa são os pontos que conseguimos marcar.
E quando não conseguimos ser melhores do que somos, acontece o fracasso que irá refletir na auto-imagem que temos de nós mesmos, e, fatalmente a nossa auto-estima será afetada.

3. A competição constrói o caráter?

A possibilidade de ser humilhado está sempre presente quando o assunto é competição. Devemos Lembrar que mais perdemos do que ganhamos numa competição, então a chance de sair frustrado do jogo é muito grande. Quando aprendemos a simular, enganar, não aceitar a derrota e trapacear dentro do jogo, estamos, ao mesmo tempo, levando esses conceitos para a formação do caráter da pessoa. Ninguém é diferente do que é jogando.
Por que não criar novos jogos que nos tornem pessoas mais honestas, solidárias, cooperativas, amigáveis, atenciosas, e assim correr o delicioso risco de também viver dessa forma?
Se a criança aprende que vencer é o que mais importa, que para ganhar vale fazer qualquer coisa, incluindo aí trapacear e até usar de violência, com certeza atuará assim também na própria vida.
Não podemos mais gastar nossa energia tentando fazer o outro perder, e o que é pior enxergar o outro como o inimigo que nosme fará naufragar. Na realidade, a competição tem servido para destruir o caráter e nunca para construí-lo.

4. A criança precisa aprender a perder?

Aprender a perder não significa especializar em perdas[1], pois o que na realidade acontece é justamente isso: especializamos para a derrota.
Muitas pessoas defendem a competição dizendo que devemos aprender a perder, como se alguém gostasse disso.
O sucesso e a competição são coisas distintas, pois posso trabalhar e ter sucesso sem precisar impedir que outras pessoas obtenham também sucesso em alcançar seus objetivos. Competência nada tem a ver com competição, a idéia é que possamos ser cada vez mais competentes sem prejudicar alguém.
Nós conseguimos produzir melhor quando não estamos tentando derrotar alguém.
A criança não aprende a perder em nossa sociedade, mas é treinada a competir em todos os momentos, e isso é muito cruel, pois ela só consegue ver um pedaço da verdade. Existem inúmeros momentos em que não precisamos da competição, mas, ela continua sendo sempre escolhida para resolver a situação, afinal não conhecemos outra saída.
Nossos esforços para derrotar os outros, na escola, no jogo, no trabalho e, até em nosso tempo livre nos transforma a todos em perdedores.
Temos que reestruturar essas instituições para o nosso próprio benefício, de nossas crianças, enfim de nossa sociedade.

5. O mercado de trabalho exige competição?

Essa é mais uma meia verdade que de tanto ser dita passa a ser verdade absoluta (passa?). Claro que passa se não clarearmos isso, pois, hoje, sabemos que as empresas não mais procuram funcionários competidores, pois já perceberam que agindo assim só perdem. Pois o competidor só sabe jogar sozinho, e se a empresa não formar um time cooperativo em que todos tenham o mesmo objetivo, acabará perdendo. Somos sempre mais fortes quando unimos nossas habilidades e assim somamos nossas forças.
Focalizadores de Jogos Cooperativos, hoje, já atuam nas empresas ensinando ao grupo a jogar junto para vencer. Hoje, muito se fala de “co-opetências”, ou seja, competências compartilhadas, pois quanto mais pessoas jogando juntas, melhor. Falar em competição de mercado já não sustenta o modelo competitivo.
As empresas procuram pessoas que conseguem trabalhar de modo cooperativo, em equipe, elas querem encontrar pessoas que quando contratadas conduzem sua atuação com flexibilidade, confiança e liderança.
Podemos destacar algumas características deste perfil profissional segundo Freed (2000) no Manual Pensar, Dialogar e Aprender:
Participam ativamente numa equipe;
Assumem responsabilidade perante os objetivos da equipe;
Ouvem os outros membros do grupo;
Expressam suas idéias aos outros membros do grupo;
São sensíveis às idéias e pontos-de-vista dos membros do grupo;
Estão dispostos a fazer concessões para melhor atingir o alvo;
Agem como líder ou liderado para melhor atingir o alvo;
Trabalham em situações que mudam, e com pessoas de diferentes procedências;
Confiam mais na equipe do que no controle para a orientação diária;
Participam nas tomadas de decisão e nas soluções de problemas.

6. A competição é que dá “graça” ao jogo?

Ao observar crianças jogando de forma cooperativa e percebendo que a graça está presente e que todos sentem prazer jogando, não é correto afirmar que é a competição que dá graça ao jogo.
Pelo contrário, a competição, na maioria das vezes, retira a graça do jogo, pois as pessoas que jogam estão tão preocupadas com o final que não se divertem.
A competição pode ser o elemento desafiador dentro de um jogo, mas daí dizer que a graça presente no jogo é a competição há uma distância enorme. Assim, como a competição desafia também faz com que quem joga se sinta estressado, angustiado e preocupado, isso só acaba com o fim do jogo. Sendo assim, tudo que o jogo tem de bonito, não é apreciado, pois a ênfase está no resultado final.
Os jogos cooperativos fazem com que as pessoas que jogam possam apreciar tudo que o jogo pode oferecer, pois não tenho que me preocupar com o resultado final, mas sim com todos os momentos do jogo.
Não tenho nenhuma garantia de que mudando o jogo, mudarei a forma como as pessoas vivem, mas tenho muitos indicativos de mudanças, pois somos influenciados por uma cultura perversa, mas também podemos influenciá-la com amor, bondade, cooperação, respeito etc. Os jogos que as crianças jogam se tornaram seus jogos de vida.
Devemos abrir um espaço para que a criança possa jogar e discutir valores humanos tais como ganhar, perder, poder, solidariedade, respeito, sucesso, fracasso, ansiedade, rejeição, jogo limpo, aceitação, amizade, cooperação e competição sadia.
Eu tenho plena convicção de que o jogo cooperativo favorece e muito uma tomada de consciência a respeito desses valores, que são essenciais para nossas vidas.
A idéia difundiu-se e, hoje, diversas pessoas desenvolvem jogos cooperativos aplicados à educação, empresas e serviços comunitários. Em alguns países, a proposta está incluída em escolas de diversas metodologias, sendo utilizada como educação preventiva para conter a crescente violência entre os jovens.
Santin (1994) prega uma Educação Física que contribua para a humanização do ser. Vejo a Escola como uma das melhores oportunidades para que isto aconteça.
Orlick em seu livro Vencendo a competição (1989) diz:
“O melhor preparo para ser um adulto humanista, responsável e feliz é viver a infância em toda a sua plenitude”.

Orlick (1989) continua dizendo:
“Devemos trabalhar para que seres humanos confiantes, cooperativos e felizes não se tornem uma espécie ameaçada de extinção”.
[1] Frase de Fábio Otuzi Brotto.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

JOGOS COOPERATIVOS: DEFINIÇÕES E CARACTERÍSTICAS


1. Definindo:

Existem muitas definições para cooperação e competição.
Como as descritas por Brotto, (1999):
Cooperação: é um processo de interação social, cujos objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos.
Competição: é um processo de interação social, cujos objetivos são mutuamente exclusivos, as ações são isoladas ou em oposição umas às outras, e os benefícios são concentrados somente para alguns.

A ANTROPÓLOGA MARGARET MEAD DEFINIU ASSIM:

Competição: ato de procurar ganhar o que outra pessoa está se esforçando para obter, ao mesmo tempo.
Comportamento Individualista: um ato em que o indivíduo se empenha para alcançar seu objetivo, sem se preocupar com os outros.
Cooperação: ato de trabalhar em conjunto com um único objetivo, se, e somente se, as outras com as quais ela estiver ligada conseguirem atingir seus objetivos.
Rivalidade: seu objetivo mais importante é conquistar outros ou garantir que não alcancem seu objetivo.
Para iniciar a conversa sobre origem dos Jogos Cooperativos, temos que voltar a milhares de anos atrás, quando membros de comunidades tribais se reuniam ao redor da fogueira para celebrar a vida. De lá para cá; muitas outras iniciativas foram feitas em direção à construção de propostas que nos levassem à convivência harmoniosa.
Nos anos 50 acontece o que chamamos de embrião dos Jogos Cooperativos, quando Ted Lentz, publica aquele que foi o precursor dos livros sobre Jogos Cooperativos, intitulado Para Todos: Manual de novos Jogos Cooperativos, tendo como co-autora Ruth Cornelius, também uma educadora que sonhava com um mundo melhor.
Terry Orlick, canadense, doutor em psicologia, docente e pesquisador da Universidade de Otawa, é a mais importante referência quando o assunto é jogos cooperativos. Muito do que se sabe hoje sobre Jogos Cooperativos deve-se a seu trabalho inovador. O seu trabalho é baseado na sociologia aplicada à Educação. Publicou em 1978, o livro intitulado “Winning through cooperation”, que aqui no Brasil teve o título “Vencendo a competição”. Este serve de inspiração para muitas pesquisas sobre o tema. Orlick é a pessoa que introduziu os jogos cooperativos na Educação, com seu trabalho na Educação Infantil do Canadá.
Orlick possui um histórico competitivo, pois quando jovem dedicou-se intensamente às atividades esportivas, vencendo várias competições regionais e nacionais de ginástica no Canadá, hoje se dedica a disseminar a proposta da cooperação pelo mundo, talvez por ter vivenciado na própria pele, os efeitos da competição desmedida.
No Brasil, Brotto introduziu os jogos cooperativos e criou junto com Gisela Sartori Franco, sua esposa em 1992, o Projeto cooperação – comunidade de serviços, dedicada à difusão dos jogos cooperativos e da ética da cooperação, por meio de oficinas, palestras, eventos, publicações e produção de materiais didáticos, tendo publicado em 1995, um livro que é o pioneiro na história dos jogos cooperativos no Brasil, “jogos cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar”.
A intenção desse trabalho é fazer uma homenagem a todos que ajudaram a construir o ideal dos Jogos Cooperativos, por isso quem não foi citado aqui saiba que nunca será esquecido, pois contribuiu e contribui ainda muito para que o sonho se torne realidade.

“A cooperação, disse Hartmann, é a força unificadora mais positiva que agrupa uma variedade de indivíduos com interesses separados numa unidade coletiva”. (Orlick, 1989).

Passamos agora a falar das várias formas de se jogar, fazendo comparações para entender e clarear a nossa compreensão e não para falar que uma forma é boa e a outra ruim, pois só conhecendo as várias maneiras de se ver uma situação é que podemos decidir entre uma ou outra.
Terry Orlick (1989) dividiu os jogos cooperativos em diferentes categorias, pois sempre é necessário adequar os jogos aos grupos que se propõem a jogar:
a) Jogos cooperativos sem perdedores: todos os participantes formam um único grande time. São jogos plenamente cooperativos.
b) Jogos de resultado coletivo: permitem a existência de duas ou mais equipes. Havendo um forte traço de cooperação dentro de cada equipe e entre as equipes, também. O principal objetivo é realizar metas comuns.
c) Jogos de inversão: enfatizam a noção de interdependência, por meio da aproximação e troca de jogadores que começam em times diferentes. Os jogos de inversão se dividem em quatro tipos:
  • Rodízio: os jogadores mudam de lado de acordo com situações pré-estabelecidas, como por exemplo: depois de sacar (voleibol); após a cobrança de escanteio (futebol, handebol); assim que arremessar um lance livre (basquete).
  • Inversão do goleador: o jogador que marca o ponto passa para o outro time.
    Inversão do placar: o ponto conseguido é marcado para o outro time.

  • Inversão total: tanto o jogador que fez o ponto, como o ponto conseguido passa para o outro time

d) Jogos semi-cooperativos: indicados para um início de trabalho com jogos cooperativos, especialmente com adolescentes num contexto de aprendizagem esportiva.
Oferece a oportunidade dos participantes jogarem em diferentes posições:
- Todos jogam: todos que querem jogar recebem o mesmo tempo de jogo.
- Todos tocam/todos passam: a bola deve ser passada por entre todos os jogadores do time para que o ponto seja validado.
- Todos marcam ponto: para que um time vença é preciso que todos os jogadores tenham feito pelo menos 01 ponto durante o jogo. (Pode-se utilizar também outros critérios, tais como, bola na trave, no aro ou tabela, um saque correto, etc).
- Todas as posições: todos passam pelas diferentes posições no jogo (goleiro, técnico, torcedor, dirigente, etc).
- Passe misto: a bola deve ser passada, alternadamente, entre meninos e meninas.
- Resultado misto: os pontos são convertidos, ora por uma menina, ora por um menino.
Podemos por meio dessas categorias, adequar o tipo de jogo que usaremos, pois é muito importante fazer com que as pessoas que jogam se sintam seguras e felizes, daí a importância de se iniciar gradativamente o trabalho, pois cada grupo tem suas próprias características, condições e ritmos, que devem sempre ser levados em consideração. Passar de uma forma para a outra pode demandar um certo tempo, é fundamental não desistir, o ideal é insistir sempre com aquilo que acreditamos.
A área que melhor estuda os efeitos que os Jogos Cooperativos causam é a Psicologia Social, pois é justamente esta área que estuda a interação social.

Aroldo Rodrigues, psicólogo brasileiro, define dizendo que a Psicologia Social é o estudo das "manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação".
Segundo o autor, suas principais características, são:

A percepção social;
A comunicação; as atitudes;
A mudança de atitudes;
O processo de socialização;
Os grupos sociais;
Os papéis sociais.

2. Características dos Jogos Cooperativos

“São jogos que facilitam a aproximação e a aceitação e onde a ajuda entre os membros da equipe torna-se essencial para se alcançar o objetivo final”.

Podemos perceber duas maneiras possíveis de ver-e-viver o jogo, tanto na escola , nas empresas, como em todos os momentos na vida.
Competir, omitir-se e Cooperar são possibilidades de agir e ser no mundo. Cabe escolhermos, e acabarmos com o mito que é a competição que nos faz evoluir.
Segundo Barreto (2000):
“Jogos cooperativos são dinâmicas de grupo que têm por objetivo, em primeiro lugar, despertar a consciência de cooperação, isto é, mostrar que a cooperação é uma alternativa possível e saudável no campo das relações sociais; em segundo lugar, promover efetivamente a cooperação entre as pessoas, na exata medida em que os jogos são, eles próprios, experiências cooperativas.”

3. Jogos Cooperativos: Afinal o que é isto?


No jogo cooperativo, aprende-se a considerar o outro que joga como um parceiro, um solidário, e não mais como o temível adversário. A pessoa quando joga aprende a se colocar no lugar do outro, priorizando sempre os interesses coletivos. São jogos para unir pessoas, e reforçar a confiança em si mesmo e nos outros que jogam. As pessoas podem participar autenticamente, pois ganhar ou perder são apenas referências para um continuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo.Os jogos cooperativos resultam numa vontade de continuar jogando, e aceitar todos como são verdadeiramente, pois as pessoas estão mais livres para se divertir.

Jogar cooperativamente é re-aprender a conviver consigo mesmo e com as outras pessoas.
O jogo cooperativo serve para nos libertar da competição, seu objetivo maior é a participação de todos por uma meta comum. A agressão física é totalmente eliminada, cada participante estabelece seu próprio ritmo, todos se enxergam como importantes e necessários dentro do grupo. Aumentando a confiança e auto – estima.

Tentamos superar desafios ou obstáculos, sempre com alegria e motivação.
Os padrões de comportamentos fluem dos valores que adquirimos enquanto brincamos e jogamos durante a nossa infância, então o modelo a que estamos expostos resultará no modelo que seguiremos no jogo e fora dele.

Se hoje em dia ainda não enxergamos muitos atos de cooperação significa que as crianças não estão sendo criadas num ambiente que lhes proporcione aprender por meio de experiências que as sensibilizem para a cooperação.

Orlick (1989) define de forma magistral o que é cooperar:
“A cooperação exige confiança porque, quando alguém escolhe cooperar, conscientemente coloca seu destino parcialmente nas mãos de outros.”

Os Jogos Cooperativos são essencialmente divertidos, pois o riso prende a atenção de todos, e assim acontece o envolvimento de corpo e alma.São atividades que tentam por meio dos jogos, diminuir as manifestações de agressividade, promovendo boas atitudes, tais como: sensibilização, amizade, cooperação e solidariedade, facilitando o encontro com os outros que jogam, predominando sempre os objetivos coletivos sobre os objetivos individuais.

A palavra chave para que possamos cooperar é confiar, ou seja, fiar juntos, já que a confiança é a matéria prima da cooperação.

Durante os Jogos Cooperativos você pode perceber com maior clareza, a beleza do jogo e explorar sem medo nem receio de ser excluído; desenvolver junto com todos suas habilidades pessoais e interpessoais. É através dos jogos também que enxergamos a nossa capacidade de conviver, e assim incentivamos a participação, a criatividade e a expressão pessoal de cada participante. Nesses jogos, competimos com os nossos próprios limites e habilidades e não mais contra os outros.

4. Os jogos cooperativos têm várias características libertadoras que são muito coerentes com o trabalho em grupo

Libertam da competição: o objetivo é que todos participem para poder alcançar uma meta comum.
Libertam da eliminação: o esboço do jogo cooperativo busca a integração de todos.
Libertam para criar: criar é construir e, para construir, a colaboração de todos é fundamental. As regras são flexíveis, e os participantes podem contribuir para mudar o jogo.
Libertam da agressão física: certamente gastamos energia na atividade física, mas se promovemos a agressão física contra o outro, estamos aceitando um comportamento destrutivo e desumanizante, o jogo cooperativo propõe o contrário.


5. A quem deve atender os jogos descritos aqui?
A qualquer um que queira jogar.
Professores.
Treinadores.
Recreacionistas.
Profissionais da saúde.
Líderes religiosos.
Líderes comunitários.
Recursos Humanos em empresas.


Enfim, a todos que se disponham a jogar e serem felizes e compartilharem essa felicidade com todos.

6. Os jogos cooperativos favorecem algumas atitudes essenciais para o exercício da convivência:
Evitam situações de exclusão.
Diminuem as chances de experiências negativas.
Favorecem o desenvolvimento das habilidades motoras e capacidades físicas (Universo psicomotor) de forma prazerosa.
Estimula um clima de alegria e descontração.
Promove o respeito e a valorização pelo diferente.
Ensina para além das regras e estruturas do jogo.

7. Existem alguns fatores que possibilitam a existência do jogo cooperativo. São eles:
Enxergar o outro como um amigo em potencial;
Alegria;
Criatividade;
Solidariedade;
Confiança entre os participantes;
Ser motivante;
Possível para todos;
Ninguém é excluído;
Simplicidade.

8. Existe uma faixa etária pré-definida para participar dos jogos?


Uma das características dos Jogos Cooperativos, diferente do que muitos imaginam é justamente não ter uma faixa etária específica em cada jogo, mas, a possibilidade de que os jogos podem e devem ser adaptados ao grupo que joga. Então podemos dizer que o Jogo Cooperativo é para a criança muito pequena e também para adultos de todas as idades.
Aqui deixo claro que a idéia é criar um programa de Jogos Cooperativos, atendendo a todas as idades, da criança até o adulto de qualquer idade.
O facilitador/focalizador deverá na hora do planejamento das atividades observar a idade dos participantes, e, assim, adequar qualquer jogo ao grupo.
Uma coisa é certa, quanto mais jovem é o grupo menos competitivo ele é. A criança pequena é muito receptiva aos desafios cooperativos. Até os 04 ou 05 anos, elas não se interessam pelo resultado final, tudo que querem é a diversão que o jogo pode proporcionar.


9. A melhor premiação é a alegria

Existe coisa que reforça mais a competição entre as pessoas do que premiar apenas uma? Dar uma estrelinha ao aluno que mais se destacou? Colocar o nome de apenas um funcionário no quadro de funcionário padrão? Entregar um troféu ao primeiro colocado?
A melhor forma de premiar, quando o assunto é cooperação é mostrar como a alegria, o trabalho mútuo e a descontração transborda o ambiente, e que todos fazem parte disso.
Na grande maioria das vezes, o grupo está tão envolvido com os objetivos interdependentes que nem percebem que, ao final, o grande prêmio é na realidade conseguir jogar “com” o outro e “vencer juntos”.
Se prêmios são utilizados, devem ser dados a todos que jogam, aqui devemos esquecer o nosso condicionamento competitivo que insisti em premiar apenas alguns em detrimento de muitos.
A escola se utiliza muito da premiação para, na visão dela estimular a criança a aprender, e esquece que essa forma é excludente, e que sempre vai existir dentro deste modelo poucos vencedores e uma grande maioria de vencidos. Quando falamos em Escola para todos, falamos também em vencedores, pois todos que se esforçam para alcançar objetivos devem ser valorizados.
Quem sempre perde tem estímulo para continuar tentando?
É fundamental investir em uma auto-estima saudável, pois só assim estaremos favorecendo um melhor aprendizado.
Segundo Brotto (2001) nestes jogos, chamados cooperativos, é importante deixar claro para todos os participantes que:
Não há seleção dos melhores porque cada um é vital para o jogo do momento.
Não há primeiro nem último lugar porque o lugar que ocupamos é nosso lugar comum.
Não há vencedores nem perdedores porque jogamos para 'VenSer', para vir a Ser quem somos plena e essencialmente.
Não há adversários porque somos todos parceiros de uma mesma jornada.
Não há troféus, medalhas ou outras recompensas porque já ganhamos tudo o que precisávamos ter... Para saber que a verdadeira conquista é poder continuar jogando uns com os outros, ao invés de uns contra os outros.

10. Sugestões de atividades cooperativas:
Há uma infinidade de atividades que podem e devem ser realizadas, a partir do tema: Jogos Cooperativos. Podemos citar algumas:
Fazer um levantamento, a partir da opinião das pessoas, dos jogos e brincadeiras e esportes de que mais gostam.
Propor a construção de um mural cooperativo, com fotos e desenhos realizados por eles (arte-cooperativa).
Confeccionar se possível um jornal, com todas as boas notícias, palavras cruzadas, desenhos, poesias etc.
Localizar no globo terrestre, países onde a forma de se viver seja mais cooperativa.
Confeccionar, junto com todos o material a ser utilizado, explicando a eles a importância do trabalho em grupo.
Criar junto com eles, um símbolo para cada grupo, hino, grito de paz etc.
Assistir vídeos que passem mensagens positivas, e, ao final, refletir sobre essas mensagens.
Proporcionar a eles acesso a livros que estimulem a formação de valores positivos.
Apresentar os jogos cooperativos, e, a partir daí, estimular a criação e transformação de outros jogos (competitivos), tornando-os mais cooperativos.
Utilizar a música e a dança, como forma de integrar e aproximar pessoas.
Mostrar outras maneiras de se praticar o Esporte, tirando o caráter competitivo e mostrando que existem alternativas para se jogar.
A atividade final poderá ser um grande festival de Jogos Cooperativos, envolvendo todas as pessoas.
Isso é um trabalho para muito tempo e muitas pessoas envolvidas também, e todos ao final serão vencedores. As pessoas participantes irão se divertir muito, elaborando, formando conceitos, tudo de uma forma lúdica e interdisciplinar, e no futuro com certeza teremos pessoas mais felizes, respeitando e valorizando as outras pessoas. E, assim, uma nova geração nascerá, mais cooperativa, ética e solidária.

11. Algumas idéias para diminuir a competição

Evitar jogos que busquem a eliminação;
Valorize mais o processo e menos o resultado final;
Fuja de jogos individuais, valorize os jogos em grupo;
Divida os times de forma criativa e não por ter mais ou menos habilidades;
Proponha jogos competitivos e cooperativos para que o grupo possa perceber em qual deles se sente melhor;
Permita que a liderança circule pelo grupo, todos devem em algum momento liderar;
Abra espaço para que a intercomunicação de idéias aconteça;
Pare o jogo sempre que for necessário para discutir com o grupo que joga.

Fazendo isso teremos uma grande chance de diminuir e humanizar a competição, estabelecendo laços fraternos entre os participantes, e dando, verdadeiramente, uma opção a ser escolhida.

12. Criando novos jogos

Se o jogo que conhecemos não nos leva à construção de um mundo melhor, então a alternativa é criar um jogo totalmente novo. Segundo Brown (1994), na criação devemos levar alguns fatores em conta:
I. Estabelecer o uso possível do jogo: para relaxar, um jogo quebra gelo, etc.
II. Estabelecer o destinatário do jogo: crianças, jovens, adultos, grupos maiores ou grupos com necessidades especiais.
III. Determinar se o jogo é para grupos pequenos, grandes e o local em que se pode jogá-lo (dentro de um salão, na rua, numa quadra etc).
Quando se está satisfeito com a idéia, pode-se anotar os passos do jogo e experimentar para sentir se dão os resultados esperados.
Re-criar é muito importante e o facilitador deve estar sempre atento para remodelar, ressignificar, reconstruir, enfim transformar o jogo na perspectiva de melhorá-lo para todos.

Quais são as perguntas que podem ser feitas para ver se o novo jogo corresponde ao nosso objetivo:
O jogo reflete bom humor? Permite que os participantes riam todos juntos? Reflete a idéia de que, às vezes, faz sentido fazer coisas que não têm sentido?
O jogo estimula a cooperação? Os participantes podem jogar com os outros e não contra os outros? Pode-se ter prazer no jogo e não no resultado?
O jogo é positivo? Anima os participantes a apoiarem-se? Há ausência de comentários críticos? Os participantes se sentem bem durante e depois do jogo?
O jogo é participativo? Entusiasma todos a jogarem em vez de observarem? Os participantes se sentem mais unidos depois do jogo?
O jogo permite que os participantes sejam criativos e espontâneos? Permite a recreação, a possibilidade de mudá-lo?
Há igualdade de participantes no jogo? É um jogo em que o facilitador é também mais um jogador?
Cada participante pode estabelecer seu próprio ritmo? O jogo evita projeções pessoais e facilita a participação coletiva?
O jogo oferece um desafio? Tem espírito de aventura?
O jogo leva em conta os participantes? Coloca ênfase no desenvolvimento ou no resultado?
O jogo é divertido?

Eu acrescentaria mais uma pergunta:

“Os jogos têm a ver com uma nova visão de mundo?”

A parte mais fantástica é a criação, pois é onde o professor mostra toda a sua criatividade, e deve sempre também se preocupar com o atitudinal presente no jogo criado. Ele deve ter claro quais são seus objetivos quando utiliza um determinado jogo. Quais serão os valores, normas e atitudes transformados com o novo jogo.
Na criação existem alguns passos que são muito importantes e que devem ser seguidos.

13. Qual é a proposta?

Criar um jogo inédito.
Colocar o jogo em prática.
Avaliar os resultados.

Se o novo jogo atende a todas as perguntas, então já podemos dizer sem medo de errar que estamos diante de um jogo que estimula a cooperação, que tem o poder transformador de ajudar a nos tornarmos o tipo de pessoas que realmente gostaríamos de ser.
Lembrando que falamos aqui do jogo educacional, ou seja, aquele que está dentro da escola, e alguns cuidados são importantes. Sempre devemos lembrar um princípio fundamental que é o da participação, que também pode ser chamado de princípio da cooperação. Todos devem estar dentro do jogo do início ao fim.
Para completarmos o processo de criação precisamos responder a mais algumas perguntas
O quê? Criaremos um jogo, uma dança ou outra atividade?
Para quem? Quem jogará esse jogo? Crianças? Jovens? Adultos? Idosos?
Para quê? Qual o intuito do jogo? Passatempo? Ensinar alguma coisa? Relaxar?
Onde? Qual o local do jogo? Praia? Campo? Quadra de esportes?
Quando? No horário da aula? Após a aula? De dia? De noite?
Com quais recursos? Qual o material disponível? Do que precisarei?
Regras? Quais serão as regras básicas do jogo? Preciso de regras? Quem decidirá as regras: Professor ou alunos?
Como vimos, o processo é simples, mas envolve estudo e dedicação, tornando-se viável para qualquer pessoa que se interessar em criar novos jogos. A criatividade deve ser exercitada, pois quanto mais re-criarmos mais estaremos desenvolvendo o nosso poder criativo.
Freire (1989) observa que por meio da transformação dos jogos as pessoas podem desenvolver sua criatividade, sua cognição e, principalmente, aprender a resolver problemas.

Criando novos grupos:

Um dos momentos mais esperados quando se vai jogar é a formação dos times ou grupos, e é justamente aí que podemos mudar nossa forma de separar/formar grupos. Devemos criar alternativas criativas e divertidas, e para isso, podemos levar em consideração o que diz Brotto (1999):
“Formar, desfazer e transformar grupos e times é um exercício que pode nos preparar para circular com maior leveza, flexibilidade e prazer por entre os vários contextos que vivemos no dia-a-dia”.
O que acontece na maioria das vezes é que as pessoas preferem ficar ao lado de quem já conhece, e tem mais intimidade, o nosso papel é fazer com que elas dêem a oportunidade a si mesmas de conhecer novas pessoas e formar novas e interessantes parcerias. Não significa que tenha algo de ruim estar com quem se gosta, é só uma chance de novas participações com a inclusão de novos amigos.
Existem alguns critérios que podem ser utilizados quando queremos “mexer” com o grupo, misturando de modo saudável as diferenças:
* Dia do nascimento: grupo 1ª quinzena; grupo 2ª quinzena.
* Cores das roupas: clara e escura.
* Tipo de calçado: tênis, sapato, sandália, tamanco, etc.
* Cor dos cabelos: claros e escuros.
* Mês do nascimento: 1º trimestre; 2º trimestre; 3º trimestre; e 4º trimestre. Dividimos o grupo em dois também utilizando a seguinte divisão: os nascidos no 1º semestre em um time; e os nascidos no 2º semestre em outro.

Os grupos devem sempre começar com um numero máximo de cinco pessoas e mínimo de três pessoas, a divisão deve sempre ser feita de forma criativa para evitar “panelinhas”.


Mais idéias para formação dos grupos:
1. Papéis coloridos, cada grupo terá uma cor;
2. Números de um a cinco, os participantes se agrupam de acordo com os números, todos os de número um se juntam; todos de dois, e assim por diante;
3. Papéis com valores humanos, cada grupo representará um valor humano;
4. Mês do nascimento, quem nasceu em janeiro em um grupo, fevereiro em outro e assim por diante;
5. Dedos da mão, grupo dos polegares, dos anelares, dos dedos médios e assim sucessivamente;
6. Crie você uma forma criativa e divertida de formar grupos.

As formas são variadas e dependerá da criatividade do facilitador, e também do grupo que joga, pois as idéias de divisão devem partir também de quem joga.
A proposta dos jogos cooperativos deve estar acompanhada de atitudes que favoreçam o respeito, a valorização e a integração de todos.
Enquanto educadores conscientes devemos sempre eliminar as diferenças, sem, contudo deixar de reconhecer que cada ser é um indivíduo com possibilidades e limitações, devemos oferecer oportunidades iguais a todos sem discriminação, para que ele possa se sentir como peça fundamental dentro do grupo.


Essa é a primeira parte de nosso trabalho. Isso é uma construção coletiva e todos que por aqui passarem poderam deixar um pouco de si e levar um pouco de nós.


Abraços Cooperativos
Sylvia e Reinaldo Soler